terça-feira, 24 de setembro de 2013

Toca Raul na Viola para o trabalhador ouvir





“Os homens até hoje, sempre tiveram falsas noções sobre si mesmos, sobre o que são ou deveriam ser. Suas relações foram organizadas a partir de representações que faziam de Deus, do homem normal, etc. O produto do seu cérebro acabou de dominá-los inteiramente.”  Nada melhor para começar esse texto a partir desse fragmento da obra A ideologia Alemã, de Marx e Engels, impressionante é o fato de ter que recorrer à filosofia Hegeliana para tentar entender o que ocorreu em uma apresentação musical, um tributo ao lendário e polemico Raul Seixas na cidade de Eunápolis. A noite, cheia de nostalgia, pessoas interessantes, num ambiente agradável com uma áurea cultural. O Viola de Bolso foi palco de uma belíssima apresentação da banda Atologiacustica. Poderia ser mais uma apresentação cultural, mais uma homenagem a Raul, poderia se não fosse o dia da arvore.
O dia da árvore poderia passar despercebido, mas como estávamos num espaço cultural, onde é respeitada a diversidade, a natureza também não poderia deixar de ser citada, e obviamente  defendida. Sabemos o quanto nossa Mata Atlântica é sofrida, e sua escassez começou com os madeireiros, e a multinacional de celulose deu continuidade. Mas o que chama mais atenção, e não é a toa que esse texto se inicia com a Ideologia Alemã, foi a reação de poucos funcionários da citada empresa de celulose sentirem ofendido e  se retirado do local com os dizeres do vocalista da banda Antologiacustica, Jorge Junior, que em um momento de avidez, citou  a Veracel como uma das principais causas do desaparecimento da mata atlântica em nossa região. Situação essa percebida até pelo menos desinformado no assunto. O que leva pessoas agirem dessa forma? Não vi ofensa ao trabalhador, que luta incessantemente na conquista de seus interesses. O que vi foi um reflexo dos ideais formados no decorrer do século XX, onde o individualismo  sobrepõe aos reais interesses humanos. Será que um funcionário público se ofenderia por alguém chamar o Estado de corrupto? Será que os interesses do trabalhador já foram plenamente atendido ao ponto de fecharmos os olhos ao descaso? Será que o “desenvolvimento” eunapolitano foi atendido com a monocultura? Dados recentes apontam  que em meados do primeiro semestre deste ano, Eunapolis atingiu o maior numero de carteiras assinadas na Bahia, devido ao plantio e colheita de café e mamão, ou seja, a policultura pode ser um impulso para  alcançarmos números melhores, não a solução, e que isso fique claro. 
 Essas reações nos dão conta de que o que esta em crise não é um banco, não é uma fabrica, mas um modelo de civilização, todos temos direitos de expressar nossas opiniões e ser contra as opiniões dos outros, por isso  não é de se julgar a infeliz atitude desses trabalhadores, que sentem confortáveis em seus carros e seguros em suas casas com cercas elétricas, que possivelmente seja contra a vinda de médicos estrangeiros (entende –se como estrangeiros médicos cubanos, pois se uma dessas pessoas que são contra a iniciativa Mais médicos, provavelmente sentiriam orgulho de ser atendido por um medico europeu numa clinica particular), ou talvez dão sentido um texto judaico que diz: “não é possível Ter lucros sem que os outros sofram prejuízos.”  Podemos usar também o existencialismo como uma ponte de construção de entendimento ao fato ocorrido, pois na moral burguesa tudo se encaixa perfeitamente, qualquer ato serve para nos enquadrar em estereótipos. E para encerrarmos a discussão, vale a máxima de Plekhanov: “não é a consciência dos homens que cria os interesses definidos, não é ela por consequência que determina o conteúdo do direito, mas sim o estado de consciência social de uma época que determina a forma que toma no cérebro dos homens o reflexo dos interesses em questão.” E para dizer que não falei de Raul, cairia muito bem sobre a atitude tomada por essas pessoas um trecho da música Ouro de tolo que diz: “ acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa...” Viva Raul.


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